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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

OFICINA DE MICROCONTOS III

Após as escritas e reescritas chegamos às versões finais dos microcontos que, honestamente, me surprenderam pela qualidade. Proponho aos alunos que divulguem seus trabalhos para o maior número de leitores/ouvintes possível. Chego a sugerir um sarau, mas eles, tímidos, recuam. Porém, aceitam que eu escreva seus microcontos no quadro-negro, para que a turma tenha acesso aos trabalhos dos colegas. E, ainda, eles não só aceitam como se entusiasmam com a proposta de imprimir e colar os microcontos no mural da escola (ver foto). Também publico as obras, acompanhadas de um texto meu contextualizando a experiência em meu blog pessoal (www.6-boca.blogspot.com) e também, agora, na plataforma e-Proinfo e neste meu novíssimo portfólio digital.




“Naquele dia tentamos mudar o mundo, mas ele não quis acordo.”

“Mil voltas dadas na cama e o sono sem aparecer.”

“Ele era feio, ela era feia, mas juntos formavam um belo casal.”

 “Se ele não tivesse acreditado tanto, não teria quebrado a cara.”

“Brincando com a arma do pai, o irmãozinho, sem saber, ao disparar contra o outro, matou com uma única bala todos os sonhos de uma família feliz.”

“Tudo seria diferente se ele não estivesse lá.”

“Aquele policial racista acabou morto por uma arma branca.”

“Procura-se uma pessoa sem nome, sem documento e que ainda não nasceu. Quem vir, avise.”

“Olhei. Admirei. Pensei. Vi um céu tão lindo e Azul, que esconde tanta tristeza. E que a ameaça a luz.”

“Deixava suas contas atrasarem mesmo com o relógio adiantado em cinco minutos.”

 “Seus risos eram escondidos. Dores insanas.”

“Eu via a cena, mas não sabia se estava participando.”
Viviane Nascimento

A qualidade dos microcontos acima - em uns mais, em outros menos - é evidente. Observe também a variedade. Tem politicamente correto, exercícios de síntese, lição de moral, lirismo e até fantástico.
     
O que poderá ser surpresa é que essas produções são de alunos meus de EJA (Educação de Jovens e Adultos), de uma escola estadual da periferia. Perfil: entre 18 anos e a terceira idade, tiveram de interromper os estudos e agora correm atrás do prejuízo ou, mesmo, só entraram numa sala de aula já adultos.

São estudantes que têm algumas dificuldades, óbvio, e por isso alguns apelidam o EJA de “Eles Jamais Aprenderão”. Mas o que esses microcontos me ensinaram é que, com um empurrãozinho de nada, a literatura pode brotar de qualquer lugar.   



                                                                                      Literatura no mural

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