“Naquele dia tentamos mudar o mundo, mas ele não quis acordo.”
“Mil voltas dadas na cama e o sono sem aparecer.”
“Ele era feio, ela era feia, mas juntos formavam um belo casal.”
“Se ele não tivesse acreditado tanto, não teria quebrado a cara.”
“Brincando com a arma do pai, o irmãozinho, sem saber, ao disparar contra o outro, matou com uma única bala todos os sonhos de uma família feliz.”
“Tudo seria diferente se ele não estivesse lá.”
“Aquele policial racista acabou morto por uma arma branca.”
“Procura-se uma pessoa sem nome, sem documento e que ainda não nasceu. Quem vir, avise.”
“Olhei. Admirei. Pensei. Vi um céu tão lindo e Azul, que esconde tanta tristeza. E que a ameaça a luz.”
“Deixava suas contas atrasarem mesmo com o relógio adiantado em cinco minutos.”
“Seus risos eram escondidos. Dores insanas.”
“Eu via a cena, mas não sabia se estava participando.”
A qualidade dos microcontos acima - em uns mais, em outros menos - é evidente. Observe também a variedade. Tem politicamente correto, tragédia, exercícios de síntese, lição de moral, lirismo e até fantástico.
O que poderá ser surpresa é que essas produções são de alunos meus de EJA (Educação de Jovens e Adultos), de uma escola estadual da periferia. Perfil: entre 18 anos e a terceira idade, tiveram de interromper os estudos e agora correm atrás do prejuízo ou, mesmo, só entraram numa sala de aula já adultos.
São estudantes que têm algumas dificuldades, óbvio, e por isso alguns apelidam o EJA de “Eles Jamais Aprenderão”. Mas o que esses microcontos me ensinaram é que, com um empurrãozinho de nada, a literatura pode brotar em qualquer lugar.
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